INTRODUÇÃO
Nosso organismo é feito de células, milhões delas. As células se multiplicam, vivem e morrem diariamente, sendo assim constantemente renovadas. Quando uma célula morre, é imediatamente destruída e seus componentes são reutilizados pelo organismo. Nessa reciclagem dos componentes das células é que se encontra o problema que causa os sintomas da Doença de Fabry.
Nosso organismo é feito de células, milhões delas. As células se multiplicam, vivem e morrem diariamente, sendo assim constantemente renovadas. Quando uma célula morre, é imediatamente destruída e seus componentes são reutilizados pelo organismo. Nessa reciclagem dos componentes das células é que se encontra o problema que causa os sintomas da Doença de Fabry.
Quando uma célula é destruída, seus componentes são fagocitados
("comidos") por outras células, chamadas macrófagos, que são parentes
dos glóbulos brancos do sangue. Dentro dos macrófagos, o material da célula
morta fica dentro de uma espécie de "bolha", chamada lisossomo. No
lisossomo, a célula introduz enzimas, que são substâncias que
"digerem" os restos celulares, quebrando substâncias grandes em partes
menores, que podem ser reutilizadas.
As enzimas que agem nos lisossomos são fabricadas pela própria célula,
seguindo uma "receita" que fica no núcleo: os genes. Se uma pessoa
sofre alguma alteração em um gene, dizemos que ocorreu uma mutação. Quando
ocorre uma mutação em um gene, a "receita" fica alterada e a enzima
que é fabricada com base nesta receita alterada, geralmente não funciona.
A doença de Fabry é uma doença hereditária causada por um gene
deficiente do organismo. Por causa desse erro na estrutura genética do organismo,
uma enzima essencial é produzida em quantidade insuficiente ou com uma
estrutura que não funciona adequadamente.
Sem esta enzima, certas substâncias (basicamente uma espécie de gordura
chamada globotriaosilceramida ou GL-3), que deveriam ser removidas do
organismo, permanecem nas células. O resultado é um acúmulo desse material. É
esse depósito progressivo que causa a maioria dos problemas que aparecem na
doença de Fabry.
Com o tempo, à medida que o GL-3 vai se acumulando nas paredes dos vasos
sangüíneos e em outros tecidos, o funcionamento do organismo sofre um grande
prejuízo. Como o processo se dá nos vasos sanguíneos do corpo inteiro, os
principais sistemas e órgãos, como o coração, o rim e o cérebro, deixam de
funcionar devidamente, gerando problemas que podem acarretar risco de vida.
Quando os sinais e sintomas da doença de Fabry são reconhecidos no
início, os médicos são capazes de tratar melhor deles, e o resultado é uma
melhora na qualidade de vida. Por isso é tão importante que seu médico o examine
se você tiver algum sintoma sugestivo (especialmente se há algum caso da doença
na sua família); e se você tiver a doença de Fabry, é importante passar por um
exame feito por médico que entenda bem da doença.
O que causa a
Doença de Fabry?
A doença de Fabry se estabelece porque o corpo é incapaz de produzir uma
enzima denominada alfa-galactosidase (alfa-galactosidase ou alfa-GAL) em
quantidade ou estrutura adequada para realizar a sua função.
O que a enzima
alfa-GAL faz normalmente?
A enzima alfa-GAL é uma das inúmeras enzimas normalmente presentes no
lisossomo, que é uma estrutura que existe nas nossas células e parece funcionar
como uma usina de reciclagem. A tarefa da enzima é quebrar certas substâncias
para que possam ser reutilizadas pela célula ou eliminadas do corpo. Sem a
enzima alfa-GAL em quantidade suficiente para realizar a tarefa adequadamente,
aquelas substâncias (basicamente a GL-3) se acumulam nos lisossomos,
principalmente nas células encontradas nas paredes dos vasos sangüíneos. A
doença de Fabry recebe o nome de doença de depósito lisossômico por causa desse
acúmulo progressivo de substâncias nos lisossomos.
Quais são os
sintomas principais da Doença de Fabry?
Dor e fadiga
De modo geral, a dor é considerada o primeiro e o mais comum de todos os
sintomas da doença de Fabry. Provavelmente a dor é causada pelo comprometimento
do sistema nervoso, como resultado do depósito de GL-3; muitas vezes a dor é o
primeiro sintoma que faz com que os pacientes sejam levados a um pediatra. Em
muitos casos, a dor é causada por mudança do tempo, exposição a temperaturas
altas, febre ou calor excessivo, estresse ou fadiga. A maioria das pessoas com
a doença tem dois tipos de dor: acroparestesia e “crises de Fabry”.
A acroparestesia
geralmente se apresenta como uma dor que afeta basicamente as mãos e os pés.
É descrita como uma dor ardente acompanhada de formigamento, que incomoda
freqüentemente. Em geral essa dor aparece de forma intermitente ou
diariamente.
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As “crises de
Fabry” geralmente se apresentam como episódios de dor intensa, insuportável e
ardente, inicialmente nas mãos e nos pés e que se irradia para outras partes
do corpo. São crises debilitantes que podem durar desde alguns minutos até
alguns dias.
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Muitas pessoas que têm a doença de Fabry acham que tratar da dor e da
fadiga associadas com a doença significa que vão conseguir voltar a todas as
atividades que realizavam normalmente. Em geral, isso implica evitar certas
atividades, preparar-se para condições variáveis de clima, aumentar a ingestão
de água ou líquidos, “economizar” energia ou tirar sonecas freqüentes. Existem
medicações que trazem algum alívio, mas não resolvem a causa do problema.
Transpiração prejudicada
Devido ao depósito de GL-3 nas glândulas sudoríparas (glândulas que
produzem suor) e ao dano causado nos nervos, a maioria das pessoas que têm
doença de Fabry transpira muito pouco (hipohidrose) ou simplesmente não
transpira (anidrose). Isso pode causar febres freqüentes, superaquecimento com
exercícios físicos e intolerância ao clima quente.
Erupção cutânea ou
alteração da pele
A erupção cutânea roxo-avermelhada característica é o sinal mais visível
da doença de Fabry e é conhecida como angioqueratoma. Os angioqueratomas
(“angio” se refere aos vasos sangüíneos e “queratoma” significa caloso ou
endurecido) são encontrados comumente nas regiões que vão do umbigo até os
joelhos e, em alguns casos, nos locais de extensão (como os cotovelos ou
joelhos). Geralmente, aparecem na adolescência e, muitas vezes, é por eles que
a pessoa é diagnosticada. Os angioqueratomas podem se apresentar com diversas
dimensões, desde o tamanho de uma ponta de alfinete até alguns milímetros, e
podem ser removidos por tratamento com laser de argônio. Como todos os sintomas
da doença de Fabry, em última análise, os angioqueratomas resultam do acúmulo
de GL-3.
Padrão corneano ou
alteração ocular
Às vezes, a córnea das pessoas com doença de Fabry apresenta um desenho
semelhante aos raios de uma roda de bicicleta. Isso pode ser detectado por meio
de um simples exame de olho chamado oftalmoscopia de lâmpada de fenda, que
quase todos os médicos de olhos (oftalmologistas) fazem. Esse desenho também é
denominado córnea verticilata e resulta da deposição de GL-3 nos vasos
sangüíneos do olho. É por ele que algumas pessoas são diagnosticadas. A
alteração corneana não afeta a visão.
Problemas
gastrointestinais
Muitas pessoas com doença de Fabry têm problemas gastrointestinais tais
como dor após ingerir uma refeição, diarréia e náusea; provavelmente em
decorrência do comprometimento do sistema nervoso. Para ajudar a tratar desses
sintomas, alguns médicos recomendam uma dieta pobre em gorduras ou receitam uma
medicação para ser tomada antes das refeições.
Prejuízo ou dano de
órgãos e sistemas importantes
O depósito contínuo de GL-3 faz com que o caminho dos vasos sangüíneos fique
estreitado com o passar do tempo. Isso significa que os rins, o coração e o
cérebro não recebem alimento necessário para funcionar adequadamente. O
resultado disso é que as pessoas com doença de Fabry podem apresentar prejuízos
muito sérios em órgãos e sistemas importantes, chegando a apresentar risco de
vida. Os problemas mais comuns são:
Problemas renais
diminuição da
função renal (mostrada por excesso de proteína na urina)
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evolução para
insuficiência renal
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Uma diminuição leve da função renal pode ser tratada em parte com uma
dieta pobre em sódio (sal) e proteínas. A insuficiência renal grave é tratada
com diálise crônica ou então com transplante.
Problemas cardíacos
aumento do
tamanho do coração
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válvulas
cardíacas defeituosas
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batimentos
cardíacos irregulares
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ataque cardíaco
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insuficiência
cardíaca
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Alguns problemas cardíacos podem ser tratados com um marca-passo ou com
cirurgia de revascularização miocárdica (ponte de safena).
Problemas do
Sistema Cerebrovascular e do Sistema Nervoso Central
tontura ou
vertigem
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dor de cabeça
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AVC (acidente
vascular cerebral) ou derrame precoce
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Fatores emocionais
Muitas pessoas com doença de Fabry têm depressão, desesperança,
alienação e negação dos próprios sintomas. Talvez você ache conveniente conversar
com mais alguém da comunidade Fabry, ou seja, alguém em situação semelhante,
com preocupações e temores similares aos seus.
O seu médico pode ajudá-lo a lidar com essas questões e também com
assuntos relacionados com a transmissão da doença para os seus filhos.
Quando aparecem os
primeiros sintomas?
Muitas pessoas apresentam os sintomas da doença de Fabry no início da
infância, em geral entre 6 e 9 anos. No entanto, freqüentemente os sinais e
sintomas da doença não são bem compreendidos pelo médico, chegando até a serem
deixados de lado.
Como as pessoas com
doença de Fabry são diagnosticadas?
Talvez você não seja capaz de dizer se uma pessoa tem doença de Fabry
simplesmente olhando para ela. Mas a doença pode ser diagnosticada em qualquer
época, inclusive antes do nascimento. Os sinais e sintomas geralmente se
apresentam na infância e só precisam ser reconhecidos. Os médicos e outros
profissionais da saúde podem confirmar o diagnóstico por meio da dosagem da
enzima (análise de sangue que mede a atividade da enzima alfa-GAL) e por
análise de mutação genética (análise de DNA).
Pergunte ao seu médico a respeito da necessidade de você ou alguém da
sua família fazer um teste para detectar a doença de Fabry.
Como a doença de
Fabry é transmitida?
A doença de Fabry é uma alteração hereditária. É uma herança recessiva
ligada ao cromossomo X, o que significa que o gene deficiente está localizado
no cromossomo X.
Para compreender melhor isto, saber um pouco de genética ajuda. Cada um
de nós herda um cromossomo X da nossa mãe e um cromossomo X ou Y do nosso pai.
Quem herda um cromossomo X do pai é do sexo feminino (XX) e quem herda um
cromossomo Y do pai é do sexo masculino (XY). Como o gene deficiente que causa
a doença de Fabry está localizado no cromossomo X, tanto os homens como as
mulheres podem ter esse gene (já que ambos têm pelo menos um cromossomo X).
Como o único exemplar do gene que os homens têm é deficiente, eles vão
transmitir o gene a todas as filhas, mas a nenhum dos filhos. Como as mulheres
têm um gene deficiente e um gene normal, em cada gravidez elas têm 50% de
probabilidade de transmitir o gene deficiente tanto às filhas como aos filhos.
Um geneticista pode ajudar você a fazer um mapeamento do padrão de
hereditariedade da sua família, utilizando um heredograma (árvore genealógica).
Isso pode ajudar você a tomar decisões acertadas a respeito de planejamento
familiar e da possibilidade de transmitir a doença. O heredograma também pode
ajudar você a entender como a doença de Fabry afetou seus parentes, tanto vivos
como falecidos.
Quem pode herdar a
doença de Fabry?
A doença de Fabry pode afetar qualquer pessoa que herdar o gene
deficiente. Isso significa indivíduos do sexo masculino ou feminino de qualquer
grupo étnico, filho de pai doente ou de mãe portadora (muitas vezes sem o
saber) do gene deficiente. A manifestação dos sintomas da doença de Fabry
depende da atividade da enzima a-GAL em cada pessoa.
As mulheres, que possuem um gene normal e um gene deficiente, podem
apresentar qualquer nível de atividade da enzima a-GAL e, assim, não terem
sintomas, ou terem sinais e sintomas leves ou graves.
Por outro lado, os homens têm sempre a atividade da enzima a-GAL
diminuída e, por esta razão, apresentam mais sinais e sintomas que as mulheres.
Porém a gravidade destes sintomas é variável entre os pacientes.
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